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Entrevista que eu e o brilhante amigo Gabriel Galípolo concedemos à Joana Cunha do Painel S.A. da Folha de S.Paulo, sobre a inflação de alimentos.

Vice-presidente, Hamilton Mourão, disse nesta semana que as pessoas estão comendo melhor

10.set.2020 às 23h31 

Estômago A disparada no preço dos alimentos, tema que ganhou a semana ilustrado pelo pacote de arroz, levantou uma lista de justificativas, entre elas o impacto do auxílio emergencial. Os R$ 600 teriam contribuído para a alta porque as pessoas estão comendo melhor, disse o vice-presidente Hamilton Mourão. Além de uma série de hipóteses, que vão de câmbio a comportamento, o fenômeno visto nos supermercados reacende entre economistas o debate sobre a transferência de renda.

O preço do arroz teve uma alta de 3,08% em agosto, na relação com julho deste ano. No acumulado de 2020 (janeiro a agosto, na comparação com o mesmo período de 2019), o grão tem alta de 19,2%, segundo dados do IBGE

O preço do arroz teve uma alta de 3,08% em agosto, na relação com julho deste ano. No acumulado de 2020 (janeiro a agosto, na comparação com o mesmo período de 2019), o grão tem alta de 19,2%, segundo dados do IBGE.

Boca Para André Roncaglia, professor da Unifesp, é difícil cravar que o auxílio emergencial gerou o aumento, a menos que se pudesse fazer uma análise muito detalhada. Dizer que os R$ 600 causaram inflação, como fez Mourão, seria, portanto, forçar a barra.

Bolso A narrativa do vice-presidente chama a atenção porque serve de muleta para justificar o desembarque do programa (que será de R$ 300 até o fim do ano), ou seja, se o governo comprova que os R$ 600 geram pressão inflacionária, diminui a base de sustentação ao auxílio.

Balança “Não há base para dizer que, se houver inflação, ela está sendo causada pelo auxílio. Esse é só o lado da demanda”, diz Roncaglia. 

Peso No lado da oferta, o economista lista outros fatores, como abastecimento, câmbio favorável à exportação, demanda internacional e preço lá fora, além da redução de estoques reguladores, que influencia a capacidade de acomodação do choque de oferta.

Fome Para o economista Gabriel Galípolo, presidente do Banco Fator, as hipóteses se complementam, mas há um ponto que chama a atenção. “Se, efetivamente, as pessoas usaram o recurso para comer, é uma denúncia grave do país enquanto sociedade. Significa que havia pessoas que não se alimentavam suficientemente para saciar a fome”, diz.

com Filipe Oliveira e Mariana Grazini

Painel S.A. – Jornalista, Joana Cunha é formada em administração de empresas pela FGV-SP. Foi repórter de Mercado e correspondente da Folha em Nova York.